Dois anos se passaram da minha peregrinação de bicicleta que fiz até a Catedral de Santiago de Compostela.
Fiz o Caminho de Santiago em Maio de 2007, 300 km, saindo da cidade de Ponferrada e indo até Finisterre. Quando fiz essa viagem, tomei conhecimento do
Caminho da Fé, que sai do interior paulista, passa pelo sul de Minas Gerais, cruzando a Serra da Mantiqueira e chegando na Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Neste ano de 2009 resolvi fazer esse caminho. Comecei a preparação, pesquisei, troquei experiências e defini a data. Três pessoas foram fundamentais nessa minha preparação. O amigo
Toni com sua vivência, o companheiro
André Pasqualini com suas dicas e seu
vídeo e o organizado
Antonio Olinto, que trocou vários e-mails comigo e me forneceu o seu
Guia do Caminho da Fé que recomendo para qualquer um que faça. Chamei vários amigos, mas a única que pode me acompanhar foi a amiga Dida, que também pedalou comigo em Santiago de Compostela. Decidimos ir no mês de Julho, precisamente no dia 20. Saíriamos de São Carlos, o Ramal Oeste e o maior percurso, 540 km até Aparecida do Norte. O relato a seguir é um diário do que aconteceu nos 10 dias da viagem, foram nove dias pedalando por belos visuais, aprendizados e muita aventura.
O trajeto inteiro. São Paulo - São Carlos - 20/07/2009Este não foi um dia de peregrinação, pois não pedalamos pelo Caminho da Fé. Primeiro pedalamos até a Rodoviária do Tietê. Dida e eu saímos da Zona Sul e cruzamos a cidade, pedalando por 24 km até e Zona Leste. Pasqualini fez um roteiro legal e chegamos sem problema. A minha maior preocupação era o embarque das bicicletas no bagageiro do ônibus. Tínhamos duas opções de empresa, a Cometa e a Viação Cruz. O horário mais próximo era o da Viação Cruz e compramos nela mesmo. Mas não fui na bilheteria com as bicicletas para evitar um "não" do vendedor. Quando ele emitiu as passagens ele percebeu que eu ia embarcar as bicicletas. Disse que não podia e que deveria estar embalada. Argumentei dizendo que liguei na empresa e ninguém me havia falado nada, então ele liberou, pois já tinha emitido as passagens. A primeira parte já tinha sido cumprida, agora faltava o motorista. Fizemos um lanche para esperar a hora do embarque. Na hora que ônibus chegou deixamos todos os passageiros colocarem as bagagens, o motorista até brincou com a gente dizendo para gente ir pedalando. Fiquei tranquilo com a piada, pois percebi que ele não tinha nada contra as bikes. Mas na hora de colocar as bicicletas no bagageiro o homem responsável de etiquetar as malas disse que a gente não ia embarcar, pois as bicicletas não estavam embaladas. Eu disse que a empresa deixou e que me venderam as passagens ciente disso, discutimos um pouco e ele disse: "Dessa vez passa é a última vez". Ótimo, primeira e última e nós embarcamos. Depois de três horas e meia de viagem chegamos em São Carlos, perguntamos aonde era o Hotel Accacio, pedalamos um pouco e o encontramos. Conseguimos colocar as bicicletas dentro do quarto, agora era descansar e se preparar para o começo de mais uma peregrinação.
O começo, em São Carlos. São Carlos - Santa Rita do Passa Quatro - 21/07/2009 - 88 km Primeira subida. Acordamos bem cedo nesse dia. Eu demorei para pegar no sono, estava ansioso para começar a viagem. Tomamos um café da manhã farto no Hotel Accacio. Depois compramos nossas credenciais de peregrino por R$ 5,00 e saímos. Logo na saída já presenciei as setas amarelas que íam nos guiar o caminho inteiro. O tempo estava muito bom, sol sem nenhuma nuvem. Pegamos a primeira longa subida do dia para chegar até Babilônia. O calor estava forte, mas o percurso tinha muita descida e trechos planos. Carimbamos na cidade de Descalvado. Continuamos o caminho, o terreno às vezes tinha areia fofa, parecia praia, e ficava bem ruim de pedalar. As pedras soltas também exigiam habilidade.
Bicicletário numa empresa, em Porto Ferreira. Paramos para comer algo e descansar em Porto Ferreira, a cidade da cerâmica. O nosso destino final do dia seria até Santa Rita do Passa Quatro, antes de chegar mais uma forte subida. Por volta das 16:00 horas nos hospedamos no Hotel dos Viajantes. Um cochilo para fazer a hora do jantar e depois já estávamos comendo uma farta refeição. R$ 7,00 para comer a vontade, arroz, feijão, salada, farofa e um bife. Dormimos cedo, o que seria uma rotina na viagem.
Só faltam 466 km. Santa Rita do Passa Quatro - Casa Branca - 22/07/2009 - 61 kmPortal em Tambaú. Acordamos às 6:40, tomamos um café simples e às 7:45 já estávamos nos despedindo do Hotel dos Viajantes, depois de seguir os conselhos do "Seo" Modesto, que trabalha no hotel. Seria mais um dia de sol forte e céu limpo. No caminho até Tambaú pedalamos mais por rodovias do que pela terra, é um trecho fácil. Em Tambaú, carimbamos na Secretaria de Turismo, enchemos as garrafas d'água na praça da Igreja e continuamos. Passamos pelo Portal do Caminho da Fé na saída da cidade e atravessamos a primeira pinguela. Pegamos um trecho com muita lama e logo depois uma forte subida. Até Casa Branca são 33 km com algumas subidas difíceis. O visual era impressionante. Fizemos um
single track técnico. Pedalamos na margem de um rio e do trilho do trem.
Açude. Passamos por diversas plantações da laranja. Chegamos em Casa Branca por volta das 14:30, o nosso intuito era dormir em Vargem Grande do Sul, mas eram mais 30 km e com o calor que fazia decidimos ficar em Casa Branca. Ficamos hospedados na Pousada Nossa Senhora do Desterro, que ficava numa Igreja muito bela. Um grupo de jovens estava saindo depois de passar alguns dias em retiro. Os únicos hóspedes da pousada eram Dida e eu. Ocupamos um quarto imenso com várias camas e muitos chuveiros. Fizemos um lanche num bar perto e esperamos a hora do jantar. Na hora de comer parecia que estávamos num castelo. Comemos num salão imenso. Mais uma vez comida farta e saborosa. Cansados e com a barriga cheia deitamos para continuar o caminho.
Igreja Nossa Senhora do Desterro, em Casa Branca. Casa Branca - Águas da Prata - 23/07/2009 - 72 km Setas e plantações. Às 7:25 já estávamos pedalando. Deixamos a cidade de Casa Branca em mais um dia de sol e céu azul. Iríamos enfrentar o primeiro grande trecho de subida forte. A Serra da Fartura, que fica na cidade de São Roque da Fartura. Até a cidade de Vargem Grande do Sul pedalamos tranquilo, mas logo depois que saímos da cidade as subidas começaram. O esforço é muito grande, com todo o peso da bicicleta, o terreno arenoso e com pedras soltas e para dificultar ainda tinha o sol brilhando forte no céu. Mas tínhamos um ponto de descanso que era a Pousada da Dona Cidinha que ficava logo depois do pior trecho da subida. Eu empurrei bastante a bicicleta até chegar neste ponto. Parar para comer algo e conversar com a Dona Cidinha era obrigatório, estava muito desgastado. Fomos muito bem recebidos. Cidinha nos abraça com um carinho enorme e muita alegria. Logo nos oferece um lanche com pão, ovo, queijo e salada. Depois muitos doces feitos por ela. Comentei com ela do meu amigo André Pasqualini, e ela lembrou dele. Ela me disse que ele e seus amigos que fizeram a viagem foram os primeiros hóspedes, depois disso ela abriu a Pousada. Conheci o filho, o neto e a nora da simpática Cidinha. Depois de algumas fotos e mais um longo abraço continuamos o caminho. Tinha muita subida ainda, mas eram "pedaláveis". Consegui subir bem a serra e chegamos enfim no topo, 1.400 metros de altitude. Passamos pelo vilarejo de São Roque da Fartura, carimbamos e continuamos.
Entrada da Pousada da Dona Cidinha. Até Águas da Prata faltavam 16 km. Um trecho que parecia ser só de descida, mas só parecia, pois antes de descer a gente ainda sobe muito e ainda tem que atravessar várias porteiras. O tempo ficou nublado e já estava anoitecendo. Fizemos o último trecho, que era uma subida bem difícil e técnica por volta das 17:30, e chegamos na Associação do Caminho da Fé quase de noite às 18:00 horas. Fomos recebidos pela Silvia que trabalha lá. Logo depois que chegamos um vento forte agitou a cidade e logo em seguida veio a tempestade. Foi o suficiente para deixar a cidade às escuras. Sem luz, sem banho quente. A Dida deu sorte e já tinha tomado o dela, mas eu não. O jeito foi esperar a luz voltar. Silvia se despediu e deixou as chaves da Associação conosco. Jantamos no restaurante "Eskinão", no escuro, mas iluminado com luz de velas. Logo depois que voltamos para a Associção a luz voltou. Consegui tomar meu banho e enfim descansar para mais um dia de peregrinação.
Veículos motorizados estão proibidos. Águas da Prata - Barra - 24/07/2009 - 52 kmO começo original. No trecho até Barra iríamos entrar pela primeira vez no Estado de Minas Gerais. Logo depois que saímos de Águas da Prata, pedalamos pelo Pico do Gavião e chegamos em Andradas, que já é território mineiro. Mas na saída de Águas da Prata um fato curioso aconteceu, três cachorros começaram a nos seguir, dois machos e uma fêmea. Eu estava achando que só iriam nos acompanhar até algum trecho, mas os kilômetros passavam e eles continuavam do nosso lado. Se a gente não avistava nenhum peregrino, agora tínhamos companhia. Os cães eram fortes e leais, iam na frente para afastar o perigo. Cruzamos por duas vezes com vacas e bois, e nossos amigos eram responsáveis de espantar os bovinos. Chegamos em Andradas e carimbamos nossa credencial. Um dos cachorros fez amizade com os outros caninos da cidade e ficou por lá mesmo. Os outros dois continuaram a nos acompanhar.
Cães peregrinos. O trecho entre Andradas e Barra tem outra forte subida que é a Serra dos Lima. Realmente é uma subida respeitável, com pedras bem soltas e bem inclinada. Eu só consegui subir empurrando. Mas depois desse trecho o caminho melhora e vai bem até Barra. Antes paramos na Pousada da Dona Natalina. Depois cruzamos os primeiros peregrinos da viagem, um casal que estava a pé e também ia ficar em Barra. Chegamos em Barra com uma chuva fina com nossos amigos-cachorros. Barra é um vilarejo bem pequeno, mas muito acolhedor. Na linguagem mineira, pousamos na casa do Tio João. Lá encontramos mais três peregrinos que estavam a pé, Thiago, Gilberto e André que eram de Paulínia. Logo depois o casal Helena e Diego também chegaram. Todos tomaram banho e o jantar foi servido às 19:00 horas. Foi a refeição mais divertida do Caminho, pois comemos com outros peregrinos que contaram suas histórias e demos muitas risadas. Os cachorros que nos acompanhavam comeram um pouco de ração, e dormiram na Pousada conosco. Às 21:00 horas todos já estavam dormindo.
Bezerro nascendo com fé. Barra - Borda da Mata - 25/07/2009 - 55 kmO Menino da Porteira, em Ouro Fino. Enquanto eu dormia, apenas escutava o barulho da chuva caindo. E quando acordei a chuva continuava. Seria um dia difícil e com muita lama. Tomamos o café da manhã e recebemos a dica do Tio João; fazer outro caminho, que não está sinalizado para evitar um trecho que tinha muita lama e muita subida. Ele nos contou que no dia anterior 13 motoqueiros caíram tentando subir esse trecho. Não queria sair do Caminho da Fé, mas escutei a voz da experiência, e ele também nos disse que logo voltaríamos pelo trecho original. Então fomos pelo outro lado que aumentava em 3 km a distância até Ouro Fino. Às 8:00 horas, Dida, eu e os cachorros começamos a pedalada. A chuva não estava forte, mas deixava o terreno bem difícil de se pedalar. Muita lama mesmo. O ruim desse trajeto paralelo é que pegamos um longo trecho de rodovia sem acostamento e como estávamos com os cachorros ficou muito perigoso. Eles não andavam mais atrás da gente e sim no meio da estrada. Temi muito pela vida deles. Eles quase foram atropelados diversas vezes. Mas graças a Nossa Senhora eles chegaram bem em Ouro Fino. A gente se perdeu um pouco para achar a escultura do Menino da Porteira, pois viemos pela periferia sem as setas, e quando encontramos as sinalizações já estávamos indo em direção a saída da cidade. Perguntei para uma senhora da cidade que nos indicou o local certo da estátua. No momento em que pedia a informação o casal de cachorros se perdeu da gente e acabaram ficando em Ouro Fino, chegava o fim da peregrinaCÃO.
Gentilezas pelo caminho. Chegamos lá e fizemos as tradicionais fotos. Realmente é muito bonito e imponente o Menino da Porteira. Ainda paramos no Mercado Peg-Pag para tirar a foto da gruta com a imagem de Nossa Senhora. Depois de Ouro Fino pedalamos por 9 km até Inconfidentes, é uma caminho bem fácil e gostoso. Comi algo no Restaurante e Hotel O Caipira. Ainda tinha um trecho até Borda da Mata. Enfrentamos a chuva e algumas subidas fortes. No caminho descobrimos na placa de divisa de cidades que Borda da Mata é a capital do pijama. Ficamos no Minas Hotel, o mais barato do Caminho da Fé, R$ 10,00 com café da manhã. As bicicletas estavam imundas, conseguimos passar uma água num posto de gasolina e compramos um óleo de corrente numa loja de motos. Andamos um pouco pela cidade, ficamos numa
lan house e comemos um lanche na Padaria Primor. Depois, como de costume a cama nos esperava.
Borda da Mata, capital nacional do pijama. Borda da Mata - Estiva - 26/07/2009 - 42 kmBelas paisagens. Acordamos e tomamos uma café da manhã bem caseiro. Uma senhora bastante atenciosa e simpática nos serviu. Comi pela primeira vez o famoso biscoito de polvilho mineiro. O tempo estava instável, fazia sol e chuva. A partir de agora a viagem ficava mais difícil, pois as grandes subidas chegaram. Sempre entre uma cidade e outra existia uma grande e forte subida, iríamos enfrentar duas. A primeira até Tocos do Mogi e depois até Estiva. A subida até Tocos era mais complicada, mas enfrentamos bem, chegando na cidade o sol abriu. A pequena cidade mineira estava movimentada neste domingo de sol. Muitas pessoas nas ruas almoçando. Carimbamos na Pousada do Peregrino e conhecemos Samuel, de Botucatu que estava fazendo o caminho a pé. Antes de continuar saboreamos um lanche na loja de doces ChocoMel que tem um morango com chocolate muito bom! Até Estiva mais uma subida forte, só que mais tranquila. Estiva é o maior produtor de morangos do Brasil e vimos diversas plantações desta fruta cítrica.
200 km para Aparecida. No caminho passamos por um trecho com muita neblina, que deixa o visual mais belo. Também cruzamos com diversos bois e vacas, mas sem a companhia de nossos fiéis amigos passamos por momentos tensos. E presenciamos a única falta de respeito de um motorista da carro no caminho. Por diversas vezes, carros nos ultrapassam, principalmente Fuscas. Sempre distantes e até acenam ou perguntam se está tudo bem. Mas no caminho até Estiva, um motorista irritado não aguentou esperar alguns segundos e apertou a buzina e falou palavrões para a Dida, infelizmente. Chegamos em Estiva e procuramos a Pousada Mendes, já que a Pousada Poka era muito mais cara. Mas na Pousada Mendes não tinha ninguém. Encontramos o irmão da dona que nos disse que ela voltaria mais tarde. Deixamos as bicicletas na pousada e fomos comer algo num bar perto. Estava passando o jogo do Flamengo contra o Santos e foi perfeito. A hora passou até a dona chegar e o Mengão ainda venceu! Quando a partida terminou a dona estava lá e combinamos de passar a noite ali. Tomamos banho e jantamos no restaurante Mãe Geralda que tinha música ao vivo e comida a vontade por R$ 9,00. E assim foi mais um dia de pedalada e aprendizado.
Estiva, o maior produtor de morango do Brasil. Estiva - Paraisópolis - 27/07/2009 - 45 km A companheira. Na Pousada Mendes não tinha café da manhã, então acordamos, arrumamos as coisas e fomos procurar uma padaria. Era bem simples e comi apenas pão de queijo. A neblina estava bem forte e quase não dava para ver o que estava na nossa frente. No caminho até Consolação cruzamos a Rodovia Fernão Dias por uma passarela. Passamos por uma vila e durante o caminho recebi um pedido do pequeno Mateus, ele queria que eu comprasse em Aparecida uma viola para ele. Mas eu disse que não ia voltar e não poderia trazer, Mateus ficou um pouco triste. Será que ele pede uma viola para todos os peregrinos?
Rodovia Fernão Dias. Chegando em Consolação comemos o nosso tradicional lanche da tarde. dessa vez saboreamos os quitutes da Dona Elza. A chuva que caiu dias antes não deixou o caminho ruim, mas no trecho até Paraisópolis pegamos uma parte muito ruim, bastante úmida e com muita lama. Impossível de pedalar. Finalmente chegamos em Paraisópolis e ficamos no ótimo Hotel Central. Lavamos mais uma vez as bicicletas. Eu procurei uma bicicletaria para trocar as pastilhas do freio traseiro e dar uma lubrificada. Achei uma e paguei tudo por R$ 5,00. Depois usei a internet de uma
lan house e fui jantar com a Dida no Restaurante Pantanal. A combinação perfeita, comida barata, saborosa e farta. Voltamos para o hotel e dormimos. Eu estava bem cansado.
Ponte torta. Paraisópolis - Campista - 28/07/2009 - 40 km Tocando o gado. Quando acordei eu só tinha uma certeza; seria o dia mais difícil do Caminho da Fé! A maior subida, a mais desafiadora. Acordamos bem cedo, 5:50 estávamos de pé e às 6:00 tomando café da manhã. Foi o dia que saímos mais cedo, 7:00 da matina já estávamos pedalando. Antes de subir até Campista tínhamos que passar por Luminosa. O caminho é tranquilo, com apenas uma subida complicada e o que facilita é que nos últimos 4 km é só descida e de longe já avistamos a pequena cidade. Em Luminosa, carimbamos na Pousada da Dona Ditinha e conversamos um pouco. Comemos um lanche numa padaria que tinha um curioso aviso: "Proibido parar animais". Já preparados fisicamente e psicologicamente começamos a grande subida, seriam apenas 16 km, mas em 9 km a gente ia subir 1.100 metros, chegando até 1.800 metros de altitude. Apesar da subida árdua e difícil, a paisagem é compensadora. O ínicio é bem no meio de um bananal. Passamos pela Pousada da Dona Inez que carimba nossas credenciais e conta como é a subida. Eu empurrava mais do que pedalava e a Dida pedalava bem. Pedalei um bom trecho quando um cachorro começou a correr atrás de mim. Mas tirando isso empurrei quase toda a subida. Teve um momento que dois homens passaram de cavalo, um deles ofereceu ajuda e perguntou se eu queria que ele levasse o meu alforge, mas preferi continuar do jeito que estava. Mas o visual era lindo. Pedalamos/empurramos e subimos muito, e enfim chegamos na divisa de MG e SP. Ainda tinha um trecho até Campista. Pedalamos mais um pouco e chegamos na placa que informava que estávamos apenas há 100 km de Aparecida. Depois chegamos no trecho de asfalto e de novo estávamos no Estado de São Paulo. A chuva começou a cair e alguns carros passavam tirando fina, ou seja, estávamos realmente em SP.
Push-Bike! Um pouco mais de subida e enfim encontramos a Pousada Barão Montês. Chegamos cansados, com frio, com fome, mas felizes. Subir esse trecho era muito bom e recompensador. Fomos muito bem atendidos pelo Diogo e pelo Márcio. Primeiro tomamos banho. Depois um saboroso lanche para saciar a fome. Combinamos de jantar às 20:00 horas. A Pousada era muito boa e agradável. Está localizada longe de Campos do Jordão, sem aquele agito. Um silêncio maravilhoso. Na hora combinada o jantar estava sendo servido pelo Diogo. Márcio que é o dono, cozinha muito bem e tem ótimas estórias. Se alguém for lá peça para contar a estória do Pavão azul ou do porquê que ele foi morar naquele sítio. Depois da ótima refeição e da prosa fomos dormir, exaustos!
Quase lá! Campista - Aparecida do Norte - 29/07/2009 - 90 kmMistério. Chegamos no último dia de peregrinação. Um misto de alegria e de tristeza toma o meu coração. Apesar de querer chegar na Basílica, gostaria que o Caminho nunca terminasse. O trecho seria longo, 90 km, mas fácil, como muitas descidas e na sua maioria em asfalto. Saímos mais tarde, às 8:20. Mas antes tomamos um farto café preparado pelo Márcio e pelo Diogo. Depois ainda alimentamos o pavão azul do Márcio que tem o nome de Mistério. Nos despedimos dos novos amigos e fomos em direção a Campos do Jordão. O dia estava lindo, céu azul e sol. Um pouco de frio, pois estávamos bem alto. Saímos um pouco do Caminho original, pois o Márcio nos avisou que estava bem ruim de pedalar por lá. Então fomos só pela estrada. São duas fortes subidas e duas grandes descidas. Fomos muito bem recebidos na Pousada de Campos do Jordão e depois de receber as dicas da Marilda pedalamos em direção a Pindamonhangaba.
Muita fé. O trajeto é bem bonito e pedalamos ao lado do trilho de trem. E pela primeira vez o caminho se divide entre pedestres e ciclistas. Quem está a pé pedala bem ao lado dos trilhos e quem está de bicicleta pega o acostamento da rodovia e desce direto pelo asfalto liso. Quando entramos na divisa de Pinda, encontramos três ciclistas, dois de Jundiaí-SP e um de Niterói-RJ. O André Alécio que era um dos ciclistas de Jundiaí tem um site com dicas de viagens de bicicleta que é o
Guia do Viajante.
Ele fez um belo relato com fotos e vídeos da viagem dele pelo Caminho da Fé. Pedalamos um pouco juntos, mas logo eles sumiram na frente. O calor estava forte e Dida e eu paramos numa padaria em Pinda para comer e beber algo. Estávamos há 28 km de Aparecida. Até lá era só plano e asfalto. Para ajudar o vento estava a favor e pedálavamos numa média de 25 km/hora. Em uma hora estaríamos em Aparecida. Na metade do caminho uma tempestade se aproximava de nós. Nuvens negras, trovoadas e raios. Apertamos o ritmo para fugir da chuva. Mas demos sorte e o vento mudou de direção e levou a tempestade para um morro distante. Quase chegando na Basílica passamos por peregrinos que estavam a pé. Gritei para eles e continuei. Faço uma curva e vejo pela primeira vez a imponente Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Me emociono. Fecho os punhos da mão esquerda e levanto para o alto. Comemoro e uma sensação de dever cumprido toma meu coração e mente. Entramos pelo estacionamento, a última subida do Caminho da Fé. Uma pena que chegando na Basílica as setas amarelas desaparecem. Não tem nenhum aviso ou sinalização dizendo onde carimba e pega o certificado. Depois de perguntar para algumas pessoas, vamos em direção a secretaria. Reencontramos com os amigos ciclistas e com os peregrinos a pé.
Divisão no Caminho da Fé. O certificado custa R$ 5,00 (algo que não concordo). Eles carimbam sua credencial e imprimem na hora o seu "diploma" de peregrino. O Caminho da Fé termina ali. Agora viro um turista. Passeio por dentro da Basílica. Vejo a imagem de Nossa Senhora e agradeço pela proteção e pela força dada. Tiramos as fotos clássicas em frente a Igreja. Compro alguns terços e acendo algumas velas. Nos despedimos do local pedalando e vamos para a rodoviária. Compramos as passagens das 16:10 e os dois ciclistas de Jundiaí também vão conosco. Viajamos pela Pássaro Marrom que não cria nenhum problema em embarcar as bicicletas e nos oferece dois bagageiros para colocar as quatro bicicletas. A viagem de volta para São Paulo é um momento de reflexão. Um momento de lembrar de tudo que passamos nos últimos dias. De pensar se valeu a pena ou não. E claro que valeu, estará marcado para sempre na minha vida e estou muito feliz de ter completado esta peregrinação. Ultreia, Susseia, Aparecida!!!
Finalmente na Basílica. Para ver todas as fotos clique aqui.A credencial e os carimbos. O certificado com o nome errado, "Felepe".